GOSTO MUSICAL
Por: Clever Jatobá¹
Nos dias atuais, a riqueza e diversidade de estilos musicais existentes e
a facilidade com que são difundidas nos deixa num impasse: qual é a boa música e qual a ruim?
Bem, a noção de "boa música" ou de "música ruim"
não é um dado fático, ou uma premissa definida. Não existe um critério específico que identifique qual a música boa e qual a ruim. Em verdade, tal noção está condicionada ao gosto musical de cada pessoa, que, por sua vez, é algo muito pessoal, que reflete a natureza, essência e as influências do seu titular.
Senão, vejamos:
João é um roqueiro inveterado, que ouve no último volume o som do METÁLICA. Zezinho, seu vizinho, é um pagodeiro que marca presença todas as festas de axé. Aos domingos ele escuta ao som do PSIRICO. Já a Lú escuta somente os artistas do SERTANEJO UNIVERSITÁRIO, enquanto o Alcides vive dançando, ouvindo e cantando o ARROCHA. Por sua vez, Sr. Roberto ouve MÚSICA ERUDITA e JAZZ INSTRUMENTAL, ao tempo em que dona Maria ouve Chico, Caetano, Gil, Gal, Djavan e outros ícones da MPB. Como se não bastasse, a Crotilde escuta FUNK.
Bem, a quem cabe dizer qual deles está certo, ou errado? Qual deles escuta a tal da "boa música"?
O que é bom para um, pode ser insuportável para outro. Isso é fato.
Não nos cabe dizer quem está ouvindo a boa música, ou a música ruim. Gosto não se discute, apenas, lamenta-se... Assim, quem acredita no seu bom gosto, pode apenas lamentar o mau gosto alheio.
Ao invés disso, é muito comum ouvir as pessoas criticando o gosto (ou mau gosto) alheio, como se houvesse um padrão universal que estabelece qual musica é boa e qual é ruim.
Mas, qual o critério que foi adotado para tal análise?
Normalmente os críticos das "músicas ruins" focam sua atenção nas letras das canções.
Trata-se de um engano. Música é som, ritmo, pausa, harmonia e melodia. A "letra" diz respeito ao âmbito literário, onde a prosa e o verso comandam a liberdade de expressão do compositor.
Ao bem da verdade, o casamento entre letra e música na atualidade é uma prática quase que indissociável, pois, de certa forma, elas se completam. Mas, não podemos confundir as ideias e achar que são a mesma coisa, pois não são.
Existe plena autonomia entre letra e música. Tanto assim, que existem músicas instrumentais e livros de poesias diversas, onde cada uma preserva sua essência, sem ofuscar uma à outra.
Isso não quer dizer que não possa ser diferenciado a música de qualidade da música sem qualidade. Contudo, o apreço acerca da qualidade da música deve respeitar as características de cada estilo.
Ao bem da verdade, o ESTILO musical, muitas vezes refere-se apenas à vestimenta da música, ou seja, a roupagem que lhe é dada pelos arranjos, pelos instrumentos utilizados, e, principalmente, pela interpretação do artista.
Há músicas, inclusive, que são regravadas por artistas de estilos essencialmente antagônicos entre si, que consegue, respeitando o estilo, atender ao "gosto" de cada um.
Apenas quem escuta muitas músicas e passeia pelos diversos estilos musicais pode reconhecer as características de cada estilo e, SEM PRECONCEITO, pode analisa-lo diante do critério da qualidade, desde que busque distanciar-se de dar um foco personalíssimo do seu gosto musical.
Quem sabe assim seja possível apreciar a riqueza da música contemporânea em toda a sua essência e diversidade universal e assim perceber que pode-se escutar Luiz Gonzaga, Beatles, Wando, Geraldo Azevedo, Elvis Presley, Waldick Soriano, Xangai, Daniela Mercury, Vinícius de Moraes, Roupa Nova, Elis Regina, Edson Cordeiro, Roberto Carlos, Amado Batista, Chuck Barry, Chico César, Toto, Zezé di Camargo e Luciano, Luiz Caldas, Toquinho, Raimundo Sodré, Raul Seixas, entre outros e crescer musicalmente aproveitando o que cada um tem a nos oferecer, mas, sem exigir deles algo que ele não possa lhe dar.
¹ Clever Jatobá foi músico e cantor profissional, violonista formado em Música pela Universidade Católica do Salvador (UCSal), proprietário de uma infinita e diversificada coleção de CDS, de LPs, K7, DVDs, além de colecionador de instrumentos musicais.
Caro Clever, Acho muito boa a sua análise, sobre o comportamento do brasileiro em relação à MPB. Com muito orgulho quero salientar, suas qualidades, já apresentadas, no currículo encartado, na página "GOSTO MUSICAL". Devo apenas lembrar que, vivemos um impasse cultural muito grave! Nosso pais vive há trinta e poucos anos, a mais extensa crise de IDENTIFICAÇÃO CULTURAL. Para se ter uma idéia dessa apatia criativa, nos meados dos anos 60,em plena ditadura, foi o período de maior criatividade cultural do nosso (pobre, frágil, apático, bobo e abandonado), PAIS e seus MINISTERIOS DE EDUCAÇÃO E DA CULTURA. É bom lembrar que nós ouvíamos, ROCK, TWISTE, JAZZ, BALADA, BLUES, MERENGUE, SALSA, PASSE DOBLE, BOLERO, CHACAREIRA, GUARÂNIA, TANGO, MAMBO, CHA CHA CHA e uma infinidade de ritmos e melodias, da maior diversificação. esse manancial de informações, nunca acrescentou nem tirou nada da nossa criatividade. Nessa fase nossa cultura estava bem alicerçada. O Cinema, a Poesia a Literatura o Teatro, as Artes Plásticas a TV e obviamente a MPB. Hoje me lembro muito bem, de uma frase da música do Belchior (que surgiu no terceiro tempo): "NOSSOS ÍDOLOS AINDA SÃO OS MESMOS"... Não vou citar nomes desses ídolos aqui! Você e as pessoas que vão ler esse meu texto, são pessoas que certamente irão lembrar que, essa realidade é presente. Quanto à opção musical, eu costumo dizer que, nós temos 4 tipos de música: A CLÁSSICA, A POPULAR, A FOLCLÓRICA e a manifestação musical do povo livre e criativo que inevitavelmente, chega aos nossos sofridos ouvidos, através de veículos informativos oportunistas. Isso sempre existiu. ME MANDE DOCUMENTOS QUE COMPROVE, QUEM É O NOVO COMPOSITOR, CINEASTA, ESCRITOR, AUTOR, POETA, ATOR, ARTISTA PLÁSTICO, dessa nova fase, de uns vinte e tantos anos pra cá!? MINHA OBSERVAÇÃO FINAL É IMPORTANTE: A CULTURA É A IDENTIDADE DE UM POVO - UMA NAÇÃO.
ResponderExcluirAugusto Jatobá
Na minha mais simplista visão musical, sou muito seletiva por que gosto de me emocionar com o que ouço, seja na esfera do amor, da indignação social, seja na dor, enfim,sou da década de 80, e de lá pra cá venho sentindo a depreciação do que é sentir, ouvir, ser impactada por uma boa música, digo, uma letra que toque à alma, um batuque que desprenda os quadris, e que acalente um coração desprovido de alegria, esperança, de amor. Fui marcada numa época em que ouvir Gonzaguinha, Milton Nascimento, Zé Ramalho, Legião Urbana, Biquine Cavadão, Elba Ramalho, entre outros, que agora me falham à memória, era quase um hino educacional! Dificilmente não encontraremos numa musica americana ou europeia, um significado glamouroso da vida, da alegria, da dor, da tristeza, enfim, seja qual for o momento, seja qual for o motivo, há sempre um anestésico pra dor, uma injeção pro ânimo, um toque na alma e no espírito. E digo mais, a juventude anos 80 sonhava muito mais que ás de hoje, tinham esperança e uma vontade grandiosa de fazer algo diferente pela sociedade, e creio eu, que essa vontade, essa gana, era embalada, alimentada, aos grandes sons que nos tocavam os corações sonhadores. Onde a letra de uma canção era traduzida pra nossa vivencia.
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