sábado, 3 de agosto de 2013

A irreverência de Genival Lacerda

Por: Clever Jatobá¹

Hoje, enquanto eu arrumava meus discos, achei um LP de um dos maiores ícones da música nordestina de todos os tempos. Desta vez não estou falando de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro ou do Dominguinhos, estou falando do GENIVAL LACERDA.

O Genival Lacerda é um dos maiores ícones da verdadeira música popular nordestina.

Um dos artistas mais carismáticos de todos os tempos, que com as suas roupas espalhafatosas, sua chinela de couro e o seu chapeuzinho conseguia embalar a todos no ritmo irreverente do seu forró com o sacolejo da sua barriga avantajada que, com motes do estilo “Mate o Véio”, conseguia alegrar as festas juninas do nosso povão.

Nos meus tempos de criança, lembro claramente que quando ia se aproximando os festejos juninos era a hora de sentarmos diante do rádio para aguardarmos as músicas novas de ícones como Genival Lacerda, Clemilda, Zé Duarte e Sandro Becker. Bem, em seguida íamos ansiosos ao antigo supermercado “Paes Mendonça” para comprar o LP destes artistas.

Assim, o São João era animado, entre outras, pelo hits juninos de duplo sentido, que alimentavam a irreverência de um estilo musical tipicamente popular e que faziam a festa em todos os cantos que chegávamos.

Era comum gravarmos uma Fita Cassete com os maiores sucessos e irmos ouvindo no toca-fitas auto reverse do carro ao longo da viagem ao interior da Bahia, onde passaríamos o São João à beira da fogueira, regado de comidas típicas e embalados pelas músicas juninas.

Desta época algumas canções ficarão para sempre na memória como Severina Xique-xique, Galeguinho dos zóio azuis, ou os versos que denunciavam que “Ele está de olho é na boutique dela”, ou a estória da coitadinha da Ivete, que facilitou e estragaram seu Chevette, ou a indagação sobre “de quem é este jegue”, entre tantas outras. Mas, uma das páginas musicais mais belas do Genival Lacerda, sem dúvida alguma, é o Hit “Quem dera”. Ah... uma linda canção.

Recentemente Ele lançou um belíssimo Cd de 60 anos de carreira, onde, entre as participações especiais, contou com a Ivete Sangalo cantando a estória do Chevette, numa regravação excelente. Pena que para encontrar o CD não é uma coisa fácil, pois as grandes lojas, lamentavelmente, não o têm à disposição.

O Genival Lacerda, a propósito, já deixou engajado na carreira seu filho João Lacerda, que tem consigo a veia musical do pai, mas numa pegada mais moderna do Forró. Falta-lhe apenas a irreverência contagiante do pai, mas, como o sangue puxa, a estrada ainda vai nos brindar com o amadurecimento do seu talento.


Sinto falta apenas de que CDS e DVDS destes artistas estejam disponíveis para aqueles que o apreciam possam ter acesso e desfrutar deles.

Sei que nem todos gostam deste forró irreverente, com letras de duplo sentidos e que, hoje em dia, o cenário do Forró moderno é muito diferente do de outrora, mas, como tudo é questão de Gosto Musical posso asseverar que há público para todos os estilos e que, mesmo com tantas modificações na essência da música junina, ainda há espaço para descobrir e até reinventar a alegria que este estilo musical tem para nos proporcionar.

NOTA

Ressalto a beleza desta fotografia do casamento do Dominguinhos com a Guadalupe que está circulando na internet, onde promove o registro fotográfico histórico do casal acompanhado pelo imortal Luiz Gonzaga e pelo mestre Genival Lacerda.

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¹ Clever Jatobá foi músico profissional, atuando como Cantor e violonista. Tendo formação em violão pela Universidade Católica do Salvador (UCSal). Atualmente, é crítico musical por diletantismo e proprietário de uma imensa e diversificada coleção de Lps, Cds e Dvds.

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