A irreverência do Forró!
O Forró é um estilo musical marcado por características muito específicas que fotografam a essência da cultura nordestina. Desde a diversidade de ritmos que são compassados pela harmonia musical da sanfona, zabumba e do triângulo, até as letras que denunciam a seca e as mazelas que o povo nordestino sofre pelo descaso político dos dirigentes do nosso país, até refletir diante do sertão a saga de um povo sofrido, mas, guerreiro, que nunca desiste e se faz um povo feliz.
Esta felicidade, a propósito, retrata com lirismo o romantismo em canções que são verdadeiras pérolas do amor romântico.
Inquestionavelmente, o maior ícone do estilo foi, sem dúvida alguma, o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, o velho Lua, que em parceria com Humberto Teixeira compôs algumas das mais belas páginas do cancioneiro popular nordestino, passeando por todas as temáticas que deram ao forró um colorido próprio das festas juninas.
A riqueza e diversidade do cancioneiro popular fez com que o forró projetasse diante da beleza das canções centenas de artistas e imortalizasse ao longo das décadas nomes como o de Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Dominguinhos, Elba Ramalho, Alceu Valença, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Fagner, Flávio José, Nando Cordel, Virgílio, entre muitos outros.
Por outro lado, também integra o DNA do forró a irreverência e descontração do nosso povo, que com cânticos engraçados, de rimas inusitadas e estórias pitorescas faziam a alegria de todos. Neste rol de canções eclodiram na década de 80 as músicas de duplo sentido, que fizeram o sucesso de nomes como Genival Lacerda, Sandro Becker, Clemilda, Zé Duarte e tantos outros.
Deste estilo, músicas como "Talco no salão" (Forró cheiroso), "Não fure Quinho, não" (Briga no casamento), "Tico mia" (O gato, Tico), "Julieta", "Prenda o Tadeu", "Coitadinha da Tonheta", etc., fizeram a descontração e alegria do nosso povo.
Em outra fase, já na década de 90, foi a vez do Mastruz com Leite dar um novo toque à irreverência e descontração do forró com canções como "Amor a três", "Só se casar" e "Cabeça de bobs x barriga crescida", "Pneu furado" e "Moto Taxi" entre tantos outro sucessos.
Nos anos 2000 foi a vez de bandas como Arriba a Saia emplacar com o sucesso de "Libere o Toim que eu te dou dez conto" e o Forrozão do Cacá tomar o cenário musical com "Vá pra casa sua cachorra", "Capou de Fusca" e "Furando o couro".
De fato a música de duplo sentido reflete a irreverência e alegria do nordestino e, porque não dizer, do povo brasileiro, de modo que tal estilo transcendeu ao forró e alcançou o pagode, o axé e outros tantos estilos.
Quem não se lembra de Raul Seixas cantando o "Rock das Aranhas" e dizendo "vem cá, mulher, deixe de manha, a minha cobra quer comer sua aranha"; ou o Raça Pura contando que "o pinto do meu pai fugiu com a galinha da vizinha", ou o Gabriel, o Pensador, contar o "2,3,4,5,6,7,8, tá na hora de molhar o biscoito". Como não lembrar do É o Tchan emplacando diversos sucessos dentre os quais eles cantavam que "ela faz a cobra subir, a cobra subir, a cobra subir", ou até o "Melô do Picolé" da banda Feras Potentes que anunciava "vem chupar que tá durinho, vem chupar que é bom, vem, que tá geladinho".
Estes são apenas algumas das centenas de canções que nos fazem sorrir de forma sutil com expressões que, via de regra, seriam um tabu ainda a se cultuar. Este é o cenário das canções de duplo sentido.
Pois bem, então quem sabe se não está na hora de resgatar a criatividade das canções de duplo sentido? Ah... mas hoje em dia ninguém toca essas músicas. Claro! Compor músicas de duplo sentido não é uma tarefa fácil, ao contrário, é difícil brincar e descontrair sem ser vulgar e ofensivo com a malícia das expressões de duplo sentido.
Pois bem, esse foi o desafio: resgatar a sátira, a malícia e a irreverência das músicas de duplo sentido dos forrós das antigas, numa perspectiva musical atual dando um passeio do forró tradicional ao moderno.
Inicialmente lançamos no CD "Clever Jatobá - O Chamego do Forró!" (2019) duas faixas: "O curioso" e "O Pãozinho", mas era muito pouco, daí arregaçamos as mangas para compor outras faixas.
O resultado do trabalho pode ser apreciado no CD "O Forrozinho do Jatobá" que traz sucessos como "O Cozinheiro", "Umbu azedo" (Part. Especial Forrozão do Cacá), "Vem e me ataca", "Poupança" e "Álcool na mão", além de outras músicas que ajudam a compor o repertório deste disco.
O Cd promove o resgate à malícia do forró de duplo sentido preservando a irreverência do estilo sem ser vulgar ou ofensivo, garantindo, assim, o entretenimento e a descontração de quem gosta de dar boas risadas. Assim, convido a todos a escutar as nossas canções e se divertir com o FORROZINHO DO JATOBÁ.
Espero que gostem!
Espero que gostem!
Abraço a todos,
Clever Jatobá.
Clever Jatobá.